Um dia você se depara com o desembarque em uma cidade com o nome tão difícil que para mim até hoje chega a ser meio impronunciável: Bulawayo (Bú – la – uai – o). Até hoje soa em minha mente a voz das pessoas tentando me ensinar a pronúncia correta do nome da segunda maior cidade do Zimbábue e para ser sincero, acredito que ainda não consigo falar esse nome direito. Mas o que raios fui fazer em uma cidade que mal sei falar o nome? Bom, vai lendo…
O grande atrativo da cidade é definitivamente ser o portão de entrada para as Colinas de Matobo, parque nacional mais antigo dessa nação, onde é possível se hospedar com alto nível para fazer Safari e tratamentos de Spa. Esta cidade é realmente agraciada por estar no caminho entre a capital Harare e a principal atração do Zimbábue, as Cataratas Victoria (Vic Falls). Mas o que o visitante poderia fazer em 24 horas nessa cidade? Eu visitei o museu de história natural, o maior e mais completo do país, caminhei por feiras e mercados, conheci a arquitetura colonial típica do centro dessa cidade, visitei restaurantes e hotéis dessa cidade, foi realmente um dia intenso!
Museu de História Natural do Zimbabwe
Este museu está localizado no Parque Centenário, edificado em 1962, sendo o principal museu da nação zimbábueana. Aqui é possível encontrar espécimes empalhados da grande maioria de animais que podem ser vistos livres na natureza selvagem dos Parques Nacionais do Zimbábue. Realmente é uma atração que vale a pena, desde que é praticamente impossível contemplar todas os exemplares por ali expostos em apenas uma única viagem a esta nação. Mas eu queria ir além, na realidade eu visitei este país não em busca da vida selvagem (que acabaria me surpreendendo também), mas por uma fama exclusiva que seus cidadãos fazem questão de ostentar: são os mais amáveis da África Oriental.
Edifícios no centro de Bulawayo
Fui em busca das pessoas. De compreender um pouco mais sobre a forma de vida que levam os locais, os verdadeiros nativos. O povo do Zimbábue é um mix de raças, uma mistura com mínimas proporções de brancos (white Rhodesians) decendentes de britânicos e irlandeses, com a grande fatia de negros decendentes de tribos nativas da Rodésia – este foi o nome do antigo Zimbabwe durante a Guerra Fria. Até os dias atuais acontecem diversos conflitos entre brancos e negros, principalmente ligados à distribuição agrária neste país que possui mais de 13 milhões de habitantes (estimativa de 2013), onde aproximadamente 99% são negros contra menos de 1% brancos, sendo que até 1980 a minoria branca era proprietária da grande maioria dos espaços cultiváveis desta nação.
Desde sua independência nos anos 80 mais de 90% da população de brancos deixou a nação, repassando o direito das terras para os negros. Atualmente dos mais de 6.000 títulos de propriedade rurais pertencentes a pessoas brancas, menos de 300 permanecem em suas mãos. Aqui, meu estimado leitor, a discriminação racial é literalmente às avessas. Foi bom caminhar pelo Mercado Makokoba justamente para ver a importância dessa terra estar nas mãos do povo negro do Zimbábue, sendo fértil, gerando resultados com a agricultura de subsistência, espantando a fome dos lares desse país.
Mercado Makokoba em Bulawayo – Zimbábue
Quando digo que visitei uma feira na África o que você poderia pensar que é possível comprar por lá? Tudo que é necessário para viver bem pode ser comprado, desde sandálias duráveis confeccionadas com pneus velhos, passando por especiarias, raízes e ervas recém colhidas, chegando até artesanatos, vasos de barro, snacks como amendoins, castanhas, frutas e verduras. É uma feira comercial livre, tão comum quanto as que podemos encontrar em nossas cidades brasileiras, com um grande diferencial: o sorriso fácil no rosto do feirante! O povo é o grande diferencial dessa nação sem sombra de dúvidas.
Interagindo com os locais em uma feira livre do Zimbábue
Depois que partimos da feira era hora de conhecer alguns hotéis e atrativos comerciais de Bulawayo, mas sem antes dar uma voltinha pela periferia da cidade. Em pequenos condomínios residencias mais de 10 pessoas se espremem em apartamentos com apenas um cômodo. Crianças corriam pelas ruas a jogar bola, a brincar como qualquer outra criança brasileira no seu quintal ou área de lazer do condomínio, com um breve diferencial: estávamos no coração do Zimbábue. Eu sinceramente estava carregando duas caixinhas de BIS desde o Brasil, pensando em comer tudo sozinho durante as longas viagens que ainda faria nessa roadtrip na África.
Bom, sabe aquele nózão na garganta ao pensar que você pode fazer algo pelo povo? Pedi o motorista para fazer uma parada por ali, bem perto de um dos prédios residências, eu precisava fazer algo. Não quis mais nenhum chocolate, eles tinham um valor imensurável para as crianças que ali estavam, eu só queria dividir de alguma forma um pedacinho do meu mundo com aquelas pessoas. Saí dali com uma experiência de vida que vou levar pros meus filhos, pros meus netos e pra todos que um dia passarem por aqui e compreenderem a importância de compartilhar o seu mundo no decorrer de uma viagem como essa.
Compartilhando um pedacinho do meu mundo com o povo do Zimbábue
Foi esse povo de sorriso fácil, de tamanha amabilidade e com tanto a ensinar, para mim, o grande destaque dessa que é uma terra de maravilhas – Zimbabwe: A World of Wonders!
O ZTA (Zimbabwe Tourism Authority) nos deram o suporte necessário para a realização dessa atividade (tal como transfers).
Caminhando por uma feira em Bulawayo – Zimbabwe
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Veja os comentários (1)
Muito bom ler seu post! pretendo fazer esta viagem e fiquei mais animado depois de ler seus relatos. Parabéns!