Nos últimos posts sobre a Tanzânia, relatamos como foi a nossa viagem para sair de Cape Maclear no Malawi e vencer os quase 2.000 quilômetros até Dar Es Salaam. Nosso objetivo era visitar Zanzibar e desfrutar do que há de melhor nessa ilha localizada na costa leste da África por 4 dias antes de partir para Moshi, nosso ponto de início na caminhada até o topo do Kilimanjaro. Nossos relatos sobre Zanzibar vão continuar por várias semanas, foram realmente dias intensos os vividos por lá, entretanto eu preciso deixar registrado aqui o que veio depois de Zanzi: a nossa epopéia para conseguir alcançar o ponto mais alto do continente africano. E ela iniciou logo depois que voltamos no slow ferry noturno desde a Stone Town até Dar Es Salaam. Chegamos na rodoviária 7 da manhã e o caos era generalizado…

Terminal rodoviário de Dar Es Salaam - Rumo a Moshi
Terminal rodoviário de Dar Es Salaam – Rumo a Moshi

Conseguimos encontrar um ônibus que partia quase que imediatamente para Moshi, seriam 8 horas de viagem! A estrada estava até bem conservada, porém as paradas eram frequentes e isso fazia com que os quilômetros fossem vencidos bem vagarosamente. Ao chegar em Moshi encontramos um hotel para descansar antes de nos reunir com o pessoal da Safari Porini, que seria nossa equipe de apoio para conseguir o feito de alcançar o topo da grande montanha. Os dois posts que você vai ler sobre introduzindo essa série de 4 matérias foram escritos in loco, durante o meu tempo de descanso nos abrigos. Boa leitura 🙂

Hoje dia 22 de março de 2014 demos início a uma grande jornada nesta viagem por vários países africanos. Uma jornada que início efetivamente no ano passado, quando decidimos que não haveria melhor hora em nossas vidas para realizar uma das caminhadas que ficariam definitivamente marcadas em nossas para todo o sempre: o trekking de 5 dias pela rota Uhuru rumo ao topo do Kilimanjaro, o teto da África.

E digo que iniciamos ainda no ano passado pois sinceramente um feito como esse não é decidido de uma hora para a outra – é preciso planejamento e acima de tudo força de vontade. É necessário acreditar que uma experiência como essa é um limiar entre o antes e o depois do topo. Acreditar na minha capacidade, de que realmente tenho força em minhas pernas e fôlego em meus pulmões para conseguir alcançar aos 5.895 metros de altura do Uhuru Peak, o ponto mais alto em todo continente africano. Aqui estou em busca de algo maior. É preciso sentir o frio intenso para dar valor nas várias horas de calor insuportável que vivemos. É necessário compreender que o viajante precisa ter sua moral formada por extremos intensos. E é por isso e por vários outros motivos que decidi parar aqui de onde estou escrevendo estes singelos parágrafos, no Mandara Huts, a primeira parada para descanso desses 5 dias.

Entrada do Parque Kilimanjaro para a Rota Marangu
Entrada do Parque Kilimanjaro para a Rota Marangu

Começamos nosso deslocamento na manhã de hoje, por volta das 10 da manhã, quando nos reunimos com a galera do Safari Porini para conferir nosso equipamento e partir rumo ao portão de entrada do Kilimanjaro National Park, em Moshi, cidade localizada a cerca de 250 milhas de Arusha, extremo norte da Tanzânia. Nosso tour de 5 dias pela “Rota Coca-Cola” – Marangu Route, a mais fácil e tradicional para o topo da África, foi combinado alguns meses antes com o Charles, o responsável pela Porini. Ele foi o cara que arquitetou tudo para que hoje conseguíssemos partir da forma mais eficaz possível.

Prestes a iniciar o trekking no Kilimanjaro
Prestes a iniciar o trekking no Kilimanjaro

E por falar em equipamentos, o Charles fez questão de nos passar uma relação completa com todos os “gears” necessários. Conseguímos reunir 90% de todo equipamento sem problemas! Não foi preciso trazer barracas, mas é indispensável trazer uma série de roupas especiais para a montanha, tais como calças e camisas de manga longa “segunda pele”, para proteger do vento, no mínimo duas blusas com capuz, uma delas mais grossa do que a outra, tudo isso forma a preparação de multicamadas para suportar o frio polar que vamos enfrentar a partir do terceiro dia. Trazer sacos de dormir profissionais também é essencial desde que nos huts existem apenas as camas com colchões. É necessário planejamento para adquirir todo material, mas para aqueles que não possuem o gear pessoal, existe um local na entrada do parque em que é possível alugar boa parte do que for preciso. Outro ponto fundamental é ter bons calçados, a prova d’água e de preferência com isolamento térmico.

Placa na entrada do Parque Kilimanjaro e suprimentos para 4 dias
Placa na entrada do Parque Kilimanjaro e suprimentos para 4 dias

Depois de fazer o registro na portaria do Parque Nacional, iniciamos nossa caminhada pelos primeiros 8 quilômetros de rainforest. Tudo bem tranquilo no começo – as duas primeiras horas seriam de caminhada leve, lenta e altamente necessária para nossa aclimatação. Caminhamos entre raízes de árvores que de tão fortes e robustas mais pareciam escadas desenhando a inclinação do relevo que nos levaria aos mais de mil metros de altitude no final das 4 horas de caminhada.

No meio do caminho fizemos uma paradinha básica para o almoço: algo leve e rápido, apenas um hambúrguer com ovo, alguns pedaços de frango, cupcake e bananas. nada mais do que uns 15 minutos e já estávamos novamente colocando nossas pernas à prova. Mais duas horas de caminhada, dessa vez por trilhas mais ingrimes e estávamos chegando nos Huts Mandara, nosso abrigo na primeira noite, já quase saindo da floresta e chegando nas regiões áridas.

Primeiros passos na trilha Marangu rumo ao topo do Kilimanjaro
Primeiros passos na trilha Marangu rumo ao topo do Kilimanjaro

É muito interessante ver relevo, clima e vegetação se transformando conforme íamos vencendo os quilômetros. No início a floresta possuía árvores gigantescas, vegetação verdadeiramente densa que foi se transformando vagarosamente enquanto íamos superando os obstáculos. As grandes árvores foram diminuindo, a presença de líquens aumentando e a altitude demonstrando-nos suas facetas iniciais, forçando nossos organismos a se adaptarem naturalmente (mais gases, mais frio, mais peso!)

Caminhando rumo ao primeiro abrigo: Mandara
Caminhando rumo ao primeiro abrigo: Mandara

Agora são 6 da tarde e estamos já de banho tomado. Aqui não há água quente para o banho, apenas uma bacia com água fervida para cada um. Usei toda a água para lavar minha cabeça com shampoo e refresquei meu corpo, axilas e partes íntimas. Os braços e pernas lavei em um chuveiro com água realmente muito gelada, mas que veio bem a calhar para aumentar nossa sensação de conforto. Aguardamos agora a chamada para nosso jantar, que está sendo preparado pelo cozinheiro da nossa expedição. Assim que chegamos e descansamos um pouco fomos convidados para tomar um chá quente com bolachas e pipocas :))

Huts Mandara - Kilimanjaro - Rota Marangu
Huts Mandara – Kilimanjaro – Rota Marangu

Após o chá, mais descanso…, mas não demorou muito até sermos novamente convidados para o jantar, já era mais ou menos 6 da tarde. Nossa refeição foi deliciosamente simples: peixe frito acompanhado por batatas fritas e sopa de vegetais, seguido por chá com bolachas para esquentar o organismo. Deitamos para dormir cerca de 7 da noite. Uma noite realmente longa, tanto pela adrenalina que estava aos litros em nossos corpos quanto pela ansiedade em enfrentar o próximo dia.

Uma noite que me pareceu mais intensa do que o próprio dia de caminhada. Como subimos bastante, a tendência era que nossos organismos se adaptariam durante a noite à altitude elevada e essa adaptação, prezado leitor, faz com que seu organismo trabalhe demais durante a noite, tanto tentando expelir os gases que se comprimem (em peidos e arrotos mesmo) quanto domesticando sua mente, que não para um segundo. Sonhei a noite inteira. Vários sonhos e realmente muito intensos. A vontade de defecar também foi intensa durante a madrugada para todo grupo. O grande problema do Mandara Huts é que não existem vasos sanitários então fazer as necessidades mais básicas durante a madrugada realmente foi difícil. Cagar agachado na altitude, no frio da madrugada, realmente não é fácil. Você precisa se despir e torcer para que nenhum inseto te morda. Pequenos grandes detalhes de um desafio.

Acordamos por volta das 6:30 da manhã para colocar todo nosso equipamento em ordem, higienizar-nos utilizando uma bacia com água quente, tomar café da manhã e então estaríamos prontos para o segundo dia. Quer saber como foi esse dia? Então não deixe de acompanhar nossas próximas atualizações 😉

http://www.youtube.com/v/CAslPji8I78
Trekking ao Topo do Monte Kilimanjaro – Tanzânia

Autor
Luiz Jr. Fernandes
Luiz Jr. Fernandes
Sou um analista de sistemas, fotógrafo, autor deste blog e viajante profissional. Já conheci mais de 70 países em todos os continentes do mundo. As minhas matérias são 100% exclusivas, inspiradas em experiências reais adquiridas nos destinos que visito. Obrigado por ler e acompanhar o meu trabalho.
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