Partí do Zimbábue com dor no coração. Foi ali que tudo começou – uma inusitada roadtrip pelo sudeste africano que nos levaria a cruzar todo o território da Zâmbia, Malawi e Tanzânia para enfim desfrutar de dois grandes destaques: a Ilha de Zanzibar e o Monte Kilimanjaro. A parte “fácil” da viagem estava acabando e a parte mais complicada apenas começando.

Ao cruzar a ponte que liga Vic Falls a Livingstone demos o primeiro passo rumo à exploração independente da verdadeira África. Longe de mim excluir países como Egito, África do Sul e Zimbabwe do continente-mãe, porém estimado leitor, a partir de hoje você entenderá os motivos de minha afirmação anterior: a verdadeira África estava apenas por começar!

Verdadeira no sentido das condições para viajar, comer, dormir e se cuidar. A verdadeira e complicada África, aquela que é infestada de dificuldades para os viajantes internacionais, mas que por outro lado é capaz de surpreender até aos mais intrépidos mochileiros nos obstáculos que vão aparecendo a cada quilômetro vencido. A parte mais díficil de todas foi vencer os mais de 2.000 quilômetros que nos distanciava de Livingstone na Zâmbia e Dar Es Salaan na Tanzânia. Tudo começou com um ônibus que nos levaria até Lusaka.

Terminal de ônibus em Lusaka - Zâmbia
Terminal de ônibus em Lusaka – Zâmbia

Era apenas o breve começo. A viagem que estava marcada para 2 partiu próximo das 4 horas da tarde. Os ônibus, coletivos, vans e qualquer meio de locomoção só partem nessa parte do planeta depois que estão completamente lotados. Essa era a parte mais complicada justamente por isso…, a viagem não rendia! Quando o ônibus começou a se locomover, com 2 horas de atraso, as coisas começaram a fluir. Com estradas relativamente boas, cruzamos a metade do país até chegar ali pelas 9 da noite no terminal rodoviário de Lusaka, um dos lugares mais caóticos que já pisei em toda minha vida.

Duas esquinas antes de chegar na rodoviária já era possível ver alguns malucos correndo bem próximos às janelas dos ônibus aos prantos, oferecendo serviços que iam desde corridas de táxi, passando por passagens de ônibus chegando até a possibilidade de querer literalmente te passar a perna. O segredo foi descer calado e procurar um taxista já dentro do veículo, pronto para partir. O grande problema de chegar a uma cidade como essa sem qualquer tipo de planejamento é a facilidade que se tem de ser roubado ou lesado de qualquer forma pelo assédio dos locais que viram a noite recepcionando os ônibus tentando ganhar uma grana de qualquer forma.

Combinado o valor com o taxista para deixar-nos em um albergue, partímos em busca de uma hospedagem simples para apenas uma noite. Em nosso itinerário não poderíamos perder muito tempo na Zâmbia pois os principais objetivos da viagem estavam na Tanzânia. Para evitar o comissionamento do taxista passamos por vários hotéis e albergues, alguns muito lotados, outros muito caros, até que por volta das 10 horas da noite conseguimos encontrar o lugar ideal para passar a noite. No dia seguinte foi levantar cedo e tomar um belo banho para seguir adiante. Um novo taxista nos deixou novamente na caótica, infernal, maldito terminal rodoviário de Lusaka, um lugar lotado de vendendores ambulantes, exploradores, gente manipuladora que só quer ganhar grana de uma forma ou de outra.

Cortando a Zâmbia rumo ao Malawi
Cortando a Zâmbia rumo ao Malawi

Porém existem aqueles que ali estão ali apenas ralando para ganhar seu dinheiro merecido. Eu nunca vi tantos vendedores ambulantes juntos em toda minha vida. Eles faziam filas quilométricas para entrar no ônibus (enquanto este não lotava) para vender qualquer coisa desde água engarrafada até frutas, roupas, utensílios domésticos, cartões de memória para celulares e muito mais.

Novamente foi preciso aguardar por HORAS até ver o ônibus engatar marcha e partir daquele inferninho. Para comprar os tickets foi outro sofrimento. Quando chegamos com o taxista, ele mesmo já tentou ganhar propina na compra dos nossos tickets nos “indicando” para um carinha com um colete e prancheta (existiam vários assim). Mais uma vez qual foi a solução? Juntar todo mundo num canto, desviando assim a atenção e assédio dos ambulantes para um só do nosso grupo sair em busca dos tickets para o grupo. Eu fui o selecionado para comprar as passagens e minha tática foi procurar o motorista do ônibus, que me indicava ao cobrador, quando ele mesmo não emitia o ticket. Uma vez dentro do buzão, foi só esperar, esperar, esperar… (veja o vídeo a seguir)


Lusaka – Zambia – rumo ao Malawi

Nosso ônibus tinha como destino final a cidade de Lilongwe, capital do Malawi. Viajaríamos por mais de 30 horas para conseguir chegar até lá, cruzando a fronteira tarde da noite no posto de Mchinji. Acontece que essa era a forma mais rápida, prática, econômica e inteligente de chegar na Tanzânia sem precisar continuar em território zambiano.

Viajamos o dia inteiro cruzando o território de um país que não se mostrou muito camarada num primeiro momento, mas que por outro lado parecia ser um prato cheio para quem deseja aventura e exploração: vários rios cruzavam a selva de vegetação densa e fechada, um bom indicador de que a Zâmbia era um país pouco explorado e que pode ser a alternativa perfeita para quem deseja explorar parques de safari. Nós tinhamos um Kilimanjaro pela frente, atividade que tomaria uma semana das 4 planejadas para essa roadtrip, então nada mais poderíamos fazer nesse momento a não ser vencer os quilômetros da forma que conseguíssemos.

Paisagens em selva no coração da Zâmbia
Paisagens em selva no coração da Zâmbia

Antes de conseguir chegar no Malawi, foi preciso fazer a imigração e deixar oficialmente a Zâmbia. Já passava das 11 da noite quando o ônibus chegou na região de fronteira. Ali aconteceria um incidente que nos faria passar uma noite inteira em uma terra de ninguém, presos entre os dois países sem permissão para adentrar o Malawi. Eu conto essa história no próximo post dessa série, não deixem de acompanhar 😉

Autor
Luiz Jr. Fernandes
Luiz Jr. Fernandes
Sou um analista de sistemas, fotógrafo, autor deste blog e viajante profissional. Já conheci mais de 70 países em todos os continentes do mundo. As minhas matérias são 100% exclusivas, inspiradas em experiências reais adquiridas nos destinos que visito. Obrigado por ler e acompanhar o meu trabalho.

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