Hoje venho até aqui para relatar a história do dia que conquistei o topo do atol/ilha de Maupiti, na Polinésia Francesa. O dia anterior tinha sido espetacular. Céu azulíssimo, a lagoa estava com as águas translucidas, o tempo realmente muito quente e abafado, foram condições espetaculares para que conseguíssemos desfrutar ao máximo do picnic no motu e o snorkel no jardim de corais. No entanto, neste novo dia, o céu amanheceu encoberto, meio que querendo chover, e como eu teria apenas um meio dia em Maupiti antes de embarcar para Bora Bora, decidi acordar bem cedo e ir começar logo de uma vez com o trekking até o ponto mais alto desta ilha na Polinésia Francesa.
Conhecido por vários nomes, tais como Teurafaatiu, Teurafaatui, Nuupere, ou Nuupure, todos para denominar o ponto mais alto de Maupiti, acessível por uma trilha íngreme que rompe pelo interior da floresta densa e relativamente repleta de mirantes com paisagens de tirar o fôlego.
Já no início da trilha, o visual fica espetacular
Quando manifestei o interesse em fazer o trekking logo pela manhã na Pensão Teheimana, coincidentemente a família de franceses que havia realizado o picnic no motu no dia anterior também mencionou que faria o percurso e acabamos combinando de ir juntos.
O Cliff nos deu uma carona em sua caminhonete e nos deixou no ponto de partida para a trilha. O clima continuava fechado e de vez em quando tínhamos a impressão de que iria chover, o que trouxe um certo receio pois não estava com os calçados ideias para a trilha e tampouco estava nos meus planos escorregar até o fim da trilha na volta ao vilarejo.
Animado mesmo que o dia não esteja com o céu azul
Não passaram 10 minutos de caminhada e já atingimos pouco mais de 100 metros do nível de onde iniciamos. A paisagem era esplendorosa e a todo momento eu ficava frustrado pois eu gostaria de ter visto as verdadeiras cores desta lagoa com o céu limpo e o sol a pino, porém o clima estava muito gostoso para a atividade física que ainda estava prestes a exercer.
Ao menos a temperatura estava agradabilíssima
Nas primeiras oportunidades de contemplar a beleza de Maupiti do topo de sua montanha já era possível perceber que a caminhada não iria render muito. Era tudo muito lindo, a todo momento eu sentia a necessidade de parar para contemplar a natureza e registrar todos os detalhes em minhas fotos, só que quanto mais eu parava, mais o meu grupo de companheiros se distanciava de mim o que acabava me requerendo mais esforço físico para conseguir alancá-los.
Nesta foto dá pra ver o centrinho de Maupiti
O bom de fazer uma trilha dessa em grupo é justamente ter a possibilidade de ir compartilhando as coisas legais que vai encontrando pela frente com alguém que está imerso na mesma experiência. E assim nós conseguimos ir, juntos, até um pouco mais acima. A vegetação exuberante escondia diversas árvores majestosas e frutíferas, encontrei muitos pés de manga no caminho até o topo, pena que estavam todas verdes nesta época do ano.
Fotos nas paradas para descanso no trekking até o topo de Maupiti
Mais alguns minutos depois, eis que a trilha começa a ficar realmente muito íngreme. A vegetação vai também modificando, acompanhando o avanço da altitude. O relevo se transforma de tal maneira que a um dado momento existem cordas, já previamente afixadas, para que os trilheiros possam se apoiar para conseguir vencer as passagens mais desafiadoras. Sem a ajuda das cordas ficaria praticamente impossível chegar ao topo.
Chega um ponto que tem uma corda para ajudar
E aí quando eu venci o primeiro patamar da montanha que era conectado por cordas. Eu parei bem na ponta do precipício, olhei pra baixo e só conseguia pensar na dificuldade que poderia vir a ser se desabasse uma chuva torrencial enquanto ainda estivesse ali pelo topo. Isso fez com que eu apertasse meu passo, vencesse o cansaço e fosse além.
Olha que visual maluco, você só tem a corda e suas pernas
Só que tinha hora que o cansaço vinha consumindo as minhas pernas. Lembrei em alguns dos momentos mais difíceis das dificuldades que enfrentei quando subi o Kilimanjaro na África. Quando as forças sumiam das pernas, eu sentava e ficava ali contemplando a beleza espetacular de Maupiti, que mesmo encoberta por nuvens fazia questão de nos brindar com paisagens de tirar o fôlego.
Teve uma hora que eu não aguentei, eu precisava de vários minutos para registrar o que via
E nesses momentos eu sacava a DSLR para conseguir eternizar aquelas paisagens em fotos. Era fácil entender o quão preservada é Maupiti, com tão poucas casas, sem hotéis ou resorts, com uma lagoa estonteante e a possibilidade de realizar várias atividades aquáticas. Naquele momento, contemplando a beleza infinita dos tons multi azulados daquela lagoa eu ficava pedindo a Deus para não ficar frustrado com Bora Bora, visto que em todos os lugares que lia sobre Maupiti, eram certas as afirmativas de que esta ilha atualmente estaria para o que Bora Bora foi há mais de 20 anos atrás.
Visual da lagoa de Maupiti com o centrinho do vilarejo
E de longe vi um lancha cruzando aquela lagoa espetacular. Ficava eu tentando entender o que esse povo fazia, para onde iam, será que sabiam o quão belos estavam na composição que meu obturador capturava naquele momento?!
Contraste de cores da lagoa, abençoados são os que oram diariamente nesta igreja
Por alguns minutos (que mais pareceram horas), fiquei ali com meus pensamentos, retomando o ar aos pulmões, oxigenando os tecidos musculares judiados pela caminhada montanha acima. E não tirava aquela lanchinha da minha cabeça…, ah aquele azul….
Mesmo com o céu escuro a explosão de azuis impressiona
Nesse momento eu escutei alguém gritar o meu nome. O grito ecoava altíssimo, parecia estar por toda ilha. Eu pensei em tanta gente depois daquele grito…, pensei no meu finado pai quando me gritava na infância, na minha mãe quando está nervosa comigo e grita meu nome com força, nos meus familiares em festas quando procuram pelo LUIZ! Eu lembrei de tanta gente, mas eram os franceses, me gritando lá de cima da montanha. Eles balbuciavam expressões em francês e tentavam me motivar com gritos que não precisavam de uma nacionalidade para expressar a tremenda satisfação de conseguir alcançar o topo com a força das próprias pernas. E quando eu mais pensei em desistir…, veio esse grito que me colocou de pé a procura da próxima corda. Eu queria ver o topo!
Muito esforço depois, eis que o topo aparece
Mais alguns metros de esforço, a trilha no final fica realmente muito difícil. É preciso tomar cuidado pois apenas um mísero deslize poderia acabar com o sonho de conhecer a Polinésia e gerar complicações gigantescas para minha vida de viajante solitário ali em Maupiti. Fui contando os passos, muito cansado porém bastante motivado pelos gritos da família que conseguiu chegar primeiro que eu. Foi algo surreal quando meus pés tocaram naquelas pedras no topo daquele atol, eu me sentia naquele momento mais vivo do que nunca estive.
Aguardando o topo ficar sem ninguém, ficava procurando a minha “casa” em Maupiti
Aguardei a família começar a descer enquanto contemplava a grandiosidade da vista algumas pedras abaixo do topo. Ainda existiam outras pessoas que registravam as últimas fotos antes de iniciar a caminhada de volta, então fiz questão de recarregar completamente as minhas baterias para depois atacar o cume, para enfim conseguir contemplar a maravilhosa orla de Maupiti e sua barreira de corais.
Sem dúvidas não são os melhores calçados pra trilha
Quando pude finalmente chegar ao topo da Ilha de Maupiti, compulsivamente começaram a vir à tona de minha memória pensamentos de redenção, motivação por continuar, me veio aquele sentimento bom de dever cumprido. Eu estava em uma jornada introspectiva e a todo momento obtinha pequenos flashes de momentos importantes da minha vida. Ficava ali comigo pensando em quantas pessoas da minha nacionalidade já tinham pisado ali. Quantas pessoas do meu estado se aventuraram por aquela trilha, sem dúvidas comecei a ver que eu poderia ter sido o único cara da minha cidade que teve a astúcia de se meter por aquela selva e chegou com as próprias pernas ao topo de Maupiti.
Chegando ao topo, a vista faz todo o esforço ser recompensador
E o visual era espetacular!
Apreciando a vista de Maupiti desde o topo do Monte
Por vários minutos me entreguei à beleza daquele ambiente. O cansaço foi superado logo no momento em que sentei com os meus pés balançando na mais alta pedra daquela ilhota da Polinésia Francesa. Eu estava com Maupiti aos meus pés 🙂
Descansando antes do retorno com uma vista espetacular
Uma deitadinha para esticar a coluna antes de me colocar de pé novamente, desta vez pronto para começar a descida. Olhei mais uma vez para aquele grande infinito azul, que por hora eu tinha dificuldades em reconhecer onde terminava o céu e começava o oceano. Fiz uma oração, agradeci a Deus pelas minhas pernas, pela disposição que me foi dada, pelo desejo de explorar. Quando comecei a caminhada no sentido inverso, escutei novamente o grito ecoando com o meu nome pelos ares de Maupiti, eram meus amigos franceses notificando-me que me aguardavam para fazermos a caminhada de volta juntos.
Com Maupiti logo abaixo dos meus pés
Me coloquei a caminhar rumo ao ponto de partida original, com o peso das minhas pernas duplicado, agora pelo esforço necessário a ser realizado para manter-me de pé. Eu estava esgotado porém muito feliz por ter conseguido realizar a caminhada com total sucesso, registrando todos os detalhes em minha memória e aqui nas páginas do blog.
Maupiti – Polinésia Francesa
Enquanto apreciava a belíssima vista que é possível obter do topo da montanha eu ficava tentando encontrar a minha hospedagem em Maupiti. Que lugar sensacional, merece sem dúvidas o retorno. Aguardem nos próximos posts sobre a Polinésia Francesa, muito mais informações sobre Maupiti, Bora Bora, Tikehau e Fakarava. Enquanto o próximo post não chega, lhe convido a adquirir um pouco mais de impressões sobre a nossa caminhada clicando no play que vem logo a seguir, bom vídeo!
Subindo uma montanha na Polinésia Francesa
Sou da opinião que quanto maio a trilha, os benefícios visuais são sempre muito compensadores. E se já na entradinha você contempla de lindos mirantes, o final nunca deixa a desejar. Perfeita as fotografias do passeio. Ótimas dicas!
Oi Eloah, obrigado pelo comentário e visita aqui no blog 🙂 Realmente se a vista inicial compensa o esforço, sem dúvidas o topo é a cereja do bolo! Seja sempre muito bem vinda! abração!
Nooossa, que corajoso!!! Fiquei só pensando nessa corda. Que medo! Deve ser um lugar super super incrível! Bom saber que tem tanto lugar ainda nesse mundão pra conhecer! Adorei o post e as fotos. Beijos.
Obrigado pelo comentário e sua visita Alessandra! Realmente dá medo, só que mais do que isso, dá satisfação ao ver o vilarejo lá do topo mais alto. Eu já fiz isso em Providência/Colombia também, sempre que possível as ilhas proporcionam essa facilidade pra gente né, podemos subir ao topo para obter paisagens espetaculares 🙂 Abração e mais uma vez valeu pelo comment/visita!