Fiz várias viagens nesse ano de 2014. De longe esse é o ano que mais viajei em toda vida. Já são quase 20 países visitados e ano sequer acabou, entretanto de todos os lugares que conheci, de todas as experiências que adquiri, nada pode ser comparado às condições que tive que enfrentar para viver 30 dias perambulando pelo lado oriental do continente africano.
Quando decidimos sair de Cape Maclear no Malawi e viajar pelos mais de 1.700 quilômetros de distância em que está localizado Dar Es Salaam nós estávamos meio malucos mesmo. Foi um lapso em nossa viagem, um momento que a falta de planejamento prévio fez com que testássemos nossos dotes mochileiros em um nível totalmente novo de dificuldade. Pode parecer simples chegar até Lilongwe e pegar um avião rumo a Dar Es Salaam, porém nós não tínhamos esse voo e não poderíamos perder o resto da saga que estaria prestes a acontecer: nós enfrentaríamos as altitudes do Kilimanjaro, bem como experimentaríamos do melhor que Zanzibar pode oferecer turisticamente a seus visitantes. Era hora de nos mover, de nos colocar em trânsito por mais de 40 horas, viajando sempre para o norte e da forma que conseguíssemos.
Viagem de Cape Maclear no Malawi até Dar Es Salaam na Tanzânia (mais de 1700 km)
O mapa anterior mostra o nosso trajeto completo. Saímos de Cape Maclear na boleia de uma caminhonete pagando mais do que todos que estavam a bordo por que éramos brancos. Ao chegar na rodovia que vai para Monkey Bay, eu pedi para parar e fui cobrado por uma corrida de 20 minutos quase que o valor completo para chegar até a capital Lilongwe. Eu lutei com todas as minhas forças para provar, com o limitado inglês do motorista, que o preço deveria ser o mesmo para todos, que isso era justo e que não deveria cobrar mais de nós unicamente por conta da nossa cor, ou por sermos viajantes. Gastamos mais de 40 minutos na disputa com o motorista até que uma van passou em disparada com uma placa escrito Lilongwe. Eu gritei no meio da rodovia e eles voltaram (é claro!) pra me buscar e terminar de lotar a VAN.
Primeira etapa: Cape Maclear até Monkey Bay e de lá para Lilongwe
Paramos por vários pontos no meio do caminho que liga Monkey Bay até Lilongwe, apenas 120 quilômetros que demoramos 10 horas para percorrer. Quando chegamos nessa caótica metrópole africana, o desejo era sair dali o mais rápido possível. Uma cidade suja, poluída ao extremo, com pedintes por todos os lados, vendedores por todas as ruas e parecia que éramos os únicos brancos no meio da multidão negra.
Vez ou outra aparecia alguém tentando se aproveitar da gente, querendo ganhar dinheiro pra recomendar um hotel, ou ainda tentando vender passagens de ônibus. Não disutíamos, nosso comportamento era não responder a questionamentos e focar nos nossos objetivos. Tentamos encontrar uma agência de ônibus que tinha serviços diários até Dar Es Salaam, porém não estavam funcionando no dia em que chegamos. Nós não queríamos perder uma noite nessa cidade, ainda mais quando pensávamos que o próximo destino seria ZANZIBAR! Tocamos então para o terminal rodoviário e encontramos um PAU VELHO que partiria naquela mesma noite para a fronteira com a Tanzânia. Pagamos menos da metade do que nos foi cobrado de Cape Maclear até Monkey Bay e tínhamos garantido o ticket para a viagem de 21 horas Malawi acima. Foi uma das viagens mais complicadas de toda minha vida.
A caótica capital do Malawi – Lilongwe
Eu passei a noite em claro. O ônibus era PÉSSIMO! Dividia espaço com outras duas pessoas e mais galinhas, pintinhos, cachorros, gatos e crianças chorando. A estrada era sinuosa e o barulho dos freios parecia uma sinfonia tenebrosa que nos acompanhou firmemente no decorrer destes 675 quilômetros. Agora você deve estar se perguntado, como é possível um ônibus percorrer pouco mais de 600 km em 21 horas de viagem?! Esta é a verdadeira África!
Noite afora rumo ao norte do Malawi
Chegando na fronteira, todo mundo desceu do ônibus e dali para frente era cada um por si! Alguns passageiros que embarcaram em Lilongwe ficaram no meio do caminho, nas grandes cidades, tal como Mzuzum, enquanto vários outros desciam em vilarejos no meio do nada. Cruzamos a fronteira da forma mais old-school possível: caminhando de um país para o outro com as mochilas nas costas.
O calor estava realmente escaldante quando chegamos no Songwe Border Control. Conseguimos o carimbo de saída do Malawi e pagamos 50 dólares por pessoa para ganhar os carimbos tanzanianos. Segundo os oficiais de fronteira, o visto da Tanzânia tinha mudado e não era mais aquele colado em uma folha inteira do passaporte (assim como os do Zimbabué, Zâmbia e Malawi), disse também que o visto seria válido se precisássemos cruzar para o Kênia, uma grande mentira que nos fez gastar mais alguns dólares com um visto de trânsito na nossa volta pra casa via Nairóbi.
Fronteira Malawi – Tanzânia
Aptos a pisar na Tanzânia, qual a primeira coisa a fazer? Correr para o ponto de táxi e procurar um meio de chegar da forma mais econômica a Mbeya? Nada disso! Paradinha para almoço tradicional com gosto brasileiro em pleno continente africano. Ali mesmo na fronteira encontramos um soldado comendo arroz com feijão e perguntamos como poderíamos conseguir um prato daqueles. Ele apontou para um restaurantezinho e lá fomos nós provar a tal da cerveja Kilimanjaro e mandar uma pratada de arroz com feijão + abacate + couve refogada e a escolha entre carne ou frango. Foi como encontrar um oásis no meio do deserto.
Estômago cheio e era hora de partir. Ficamos uma noite em Mbeya devido a não ter encontrado outra forma de continuar tocando adiante por mais uma noite adentro (seria nossa segunda noite completa na estrada). Optamos por fazer uma parada para descansar, tomar um banho e repor as energias antes de encarar a segunda parte da viagem, outros 680 quilômetros até Dar Es Salaam. No outro dia, ainda de madrugada, partimos para a rodoviária de Mbeya e pegamos o primeiro ônibus que romperia rumo a Dar, com estimativa de 8 horas de viagem, conseguimos chegar com mais do que o dobro do tempo à cidade portuária mais importante da Tanzânia.
Paisagens no nosso caminho de Mbeya até Dar Es Salaam
Descartando o calor insuportável de mais de 40 graus dentro do ônibus, o fedor de CC dominante na atmosfera, o som alto incessante e a lotação máxima de todas as poltronas, eis que eu tinha que encontrar algo bom nessa viagem. Eu passei quase todo o caminho com a minha cabeça fora do ônibus, sentindo a brisa forte que amenizava um pouco do calor e apreciando as paisagens fantásticas de um país que é composto por parques de safári e reservas florestais quase que praticamente em toda sua extensão territorial.
Visual incrível no nosso caminho até Dar Es Salaam
E era comum encontrar zebras cruzando a estrada, ver girafas e veados livres bem ao lado do acostamento, isso foi algo que elevou o meu nível de definição da palavra SELVAGEM. Como é que eu poderia visitar um zoológico depois de passar 30 dias na África, vendo animais livres andando no meio da estrada de um lado para o outro? Vivendo longe de jaulas ou grandes cercados? Estes foram alguns dos aprendizados que esse longo caminho entre o Malawi e a Tanzânia conseguiram me ensinar com tanta simplicidade e perfeição.
Pôr do sol na estrada
O sol nasceu e se foi enquanto eu estava sentado naquela dura poltrona do buzão rumando para Dar Es Salaam. A previsão era chegar 4 da tarde, porém chegamos 10 da noite. Quando paramos no terminal rodoviário principal, surgiram 300 mil taxistas tentando ganhar uma propina para nos levar a qualquer hotel barato na região central desta metrópole tanzaniana. Eu só queria um banho, uma cama e uma boa comida. Com o nome de um bom hostel em mente, despistamos todos os aproveitadores no meio da escuridão (não há iluminação pública em Dar Es Salaam!) e ao sair do terminal encontramos um taxista que nos levou pelo preço justo até nosso destino final naquele dia.
Enfim em Dar Es Salaam
Este foi um dos deslocamentos mais complicados que enfrentei em toda vida e espero nunca mais voltar a Lilongwe enquanto estiver nesse planeta. Quanto a Dar Es Salaam, acredito que ainda vamos nos encontrar muito em breve, afinal de contas ficou faltando a experiência no Serengeti. Se você quer entender um pouco mais sobre todo esse lerê, eu recomendo que veja o vídeo que vem logo a seguir. Nos próximos capítulos dessa saga africana, vamos mergulhar de cabeça em um dos destinos mais paradisíacos da costa leste do continente-mãe: a ilha de Zanzibar, não deixe de acompanhar nossas próximas atualizações.
Viajando do Malawi até Zanzibar
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Veja os comentários (1)
amigo estou indo pele primeira vez em Salam na Tanzania estou indo a negocio estou nessicitando de uma pessoa para me ajudar a mim explicar algumas coisas vou te enviar o meu whatsapp para voce entrar em contato comigo o meu nome e Washington o meu contato e 034-9.9908.1805 ok