Ataque de tubarão em Fernando de Noronha

Ataque de tubarão em Noronha

Vários veículos de mídia anunciaram hoje o que ficou conhecido como “primeiro ataque de tubarão em Noronha”, notícia esta que me deixou sensivelmente abalado. Já visitei este arquipélago 4 vezes, todas elas com encontros bem próximos à biosfera selvagem marinha presente tão intensamente nas imediações deste arquipélago e fico frustrado por ver que chegou o dia em que os tubarões tiveram que revidar a presença do homem em seu habitat natural.

Já visitamos e comentamos diversas vezes aqui neste canal de comunicação sobre o lugar onde aconteceu esse acidente: a Baía do Sueste. Este é um dos lugares mais mágicos existentes nesta ilha (e quem sabe em todo planeta!). A nós seres humanos nos foi dada a autorização de adentrar a residência de vários animais selvagens para não somente contemplar a beleza da vida marinha, mas como também para buscar interações e conhecimento mesclada à diversão nas águas límpidas deste arquipélago, entendendo um pouco mais sobre a diversidade presente nessas baías que explodem não somente em beleza mais principalmente em vida marinha, e vida em abundância.

Acontece que para tudo existe a primeira vez e enfim chegou-se o dia em que o primeiro turista foi acidentalmente atacado por um tubarão em Fernando de Noronha. Até então era vistoso o orgulho dos guias locais em afirmar que nunca havia acontecido um ataque de tubarão sequer em Noronha, isso depois de tantos anos de exploração turística. Era fácil e constante ouvir as histórias sobre a biodiversidade marinha super equilibrada tanto no Sancho quanto no Sueste, o que de fato é realmente pura verdade, desde que há tantos peixes e alimento em fartura para os tubarões, que seria até mesmo uma grande ambiguidade ver turistas sendo atacados por tubarões tão bem alimentados!


Filhote de tubarão visto na Praia do Sueste em Noronha

Se tem um tipo de comida que o tubarão ama, esta chama-se LAGOSTA. É comum mergulhar nos oceanos de Noronha e ver pequenas frestas nas falésias oceânicas completamente repletas de lagostas, elas estão lá em abundância, assim como tantas outras espécies de crustáceos e peixes de grande porte, tal como o atum e até mesmo o quase extinto MERO, o peixe que possui proporções maiores do que as de um mergulhador nos oceanos. Aí te questiono, estimado leitor, por que raios um tubarão deixaria de ingerir seu alimento e atacaria a mão de um ser humano? Bom isso é algo que apenas os biologistas marinhos e agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) poderiam nos prestar uma resposta plausível. Mas de fato é uma grande controvérsia ver que um tubarão em um mar repleto de alimento acabou gerando o que alguns veículos da imprensa chamam de “ataque”. Seria esse ataque um mecanismo de defesa desse animal?! Quais seriam os prováveis motivos de um tubarão ter mordido a mão deste turista?

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Sabemos sim que por qualquer motivo que tenha provocado este acontecimento, a principal preocupação para 2016 por parte das autoridades de Fernando de Noronha e do Governo do Pernambuco deverá ser a regulamentação mais severa da exploração turística do arquipélago. Acredito que placas na praia avisando sobre o perigo assim como existem em Boa Viagem no Recife tão pouco serão necessárias para alertar ao turista “desavisado”, afinal os tubarões são aparentes, estão lá em abundância, eles amam descansar no pico de calor do dia nas calmas e rasas águas do Sueste. Eles tem prazer e satisfação em atacar os peixes predadores das sardinhas da Baía do Sancho. Não há forma mais evidente de alterar turistas sobre a presença desses aniamis do que a própria imagem da barbatana do tubarão rompendo a linha da água próximo às praias de Noronha sendo admiradas pelos olhos dos próprios turistas.


Placa informando os lugares autorizados ao mergulho no Sueste

Deve sim haver uma fiscalização mais pesada. Deve sim ter mais gente trabalhando e sendo bem remunerada para informar, para conscientizar a todos que visitam esta ilha sobre o quão tênue é a linha entre a preservação e a biodegradação que o turismo massivo traz para o ecossistema sensível de Noronha. Não é aumentando a famigerada TPA (Taxa de preservação ambiental que atualmente é cobrada de todo turista no arquipélago – costuma ser em média 50 reais por dia de estadia). Não é só colocando placas e alertas. Não é impondo um “falso respeito”. Não é feito também na marra! Turistas continuarão visitando o arquipélago e pode ser que existam futuramente novos “ataques” (ou seriam defesas?) dos tubarões de Noronha. Como agir para conter o turismo que degrada e coloca em risco a vida de tantos outros inocentes?! Vamos começar a matar os tubarões? Ou vamos começar a educar mais, a preservar mais, a ter mais consciência de que estamos adentrando um ambiente selvagem ao colocar snorkel e nadadeira e sair procurando tartarugas, arraias e fatalmente tubarões tigre?! Acredito que a consciência deixa de ser um fator preponderante quando afrontada pela realidade dos fatos construídos por uma exploração turística que não leva em consideração a preservação ambiental.

Em lugares assim tão preservados, em verdadeiros berçários da vida marinha assim como é a Baía do Sueste, deve-se construir um trabalho ainda mais estruturado para os visitantes que pagam caro para estar em um lugar tão abençoado em biodiversidade pela mão divina. Assim como acontece no Havaí, em Hanauma Bay, além da própria cobrança do ingresso, todo visitante é obrigado a assistir uma palestra de 30 minutos que conta a história daquele lugar, que fala sobre algumas das espécies existentes e principalmente, que ensina um pouco sobre educação, respeito e acima de tudo, temor com relação às espécies que serão encontradas em um simples passeio para mergulho livre com snorkel e nadadeiras. É preciso ter reforço na educação turística, é preciso que os guias tenham maior autonomia para lidar com os turistas e quem sabe até criar a obrigatoriedade de praticar snorkel com a presença do guia, afinal de contas é um conjunto de ações focadas na segurança do turista que ampliará a prevenção a qualquer tipo de “ataque” ou “defesa” entre animais selvagens e seres humanos em Fernando de Noronha.

A seguir te convido a contemplar algumas fotos que realizei em um dos meus mergulhos na Baía do Sueste. Espero que você também possa fazer o mesmo quando for visitar esse lugar incrível.

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