Viajar na Polinésia Francesa pode ser comparado a adentrar um “spa natural”. Certeza de que quando você for, vai entender bem o que eu quero dizer com isso. Não houve um dia sequer que meu corpo não estivesse ativo, não passei um dia sem me exercitar naturalmente e comer comida deliciosamente saudável. Perdi muitos quilos nessa viagem, mas isso foi o de menos, pois o mais importante mesmo foram os momentos agradabilíssimos que tive comigo mesmo enquanto me exercitava para conseguir conhecer esse minúsculo paraíso perdido nos cafundós da Polinésia Francesa.
Não teve um dia sequer que fiquei sem fazer longas caminhadas, ou que não estive em contato com o mar, o que requere muitas calorias…, não houve momento em que não me senti disposto a fazer uma trilha, ou mergulhar com cilindro/snorkel. Eu estive 100% ativo na Polinésia Francesa. A forma mais fácil de deslocar quase sempre era a bicicleta, não tão fácil, devo reconhecer, porém a mais econômica e saudável. Algumas das ilhas da Polinésia não possuem transporte coletivo conectando suas extremidades, tampouco existem locadoras de veículos (nas maiores até que tem), mas o diferencial mesmo é utilizar a sua energia exercitando-se enquanto conhece lugares paradisíacos perdidos no meio do nada.
Volta na ilha de Maupiti de bicicleta surpreende!
Em um dos meus dias na ilha de Maupiti, a vizinha mais próxima de Bora Bora, eu decidi que queria esticar um pouco as minhas pernas. A pensão que me hospedou existiam algumas bicicletas disponíveis para os hóspedes, esta é a forma oficial de transporte em boa parte dessas ilhas e atóis, então peguei meu equipamento fotográfico, uma garrafa de água e saí pra explorar a ilha antes que o sol se posse.
Visual da Lagoa de Maupiti no finalzinho do dia
Encontrei poucos nativos perambulando ao redor da ilha. Alguns estavam bem tranquilos apenas tentando garantir um peixinho fresco pro jantar, extraído diretamente da lagoa, outros bebiam e conversavam no cais do vilarejo, em um dos únicos mercadinhos que existem por ali. Não havia melhor lugar para que eu pudesse entrar 100% em contato comigo mesmo. Exercitando-me ao redor da ilha, pedalei até lugares fora do mapa turístico. O céu estava cheio de nuvens, me alertando do que eu ainda enfrentaria pela frente nos meus dias nas Ilhas da Sociedade.
Cantinhos especiais e paradisíacos em Maupiti
Pedalar foi o complemento da imersão cultural. Sozinho, sem falar francês, em uma ilha onde pouquíssimas pessoas que conversam inglês, eu pedalei com toda a força das minhas pernas até encontrar a próxima paisagem estonteante. O clima meio fechando, a noite próxima a debutar, um certo ar melancólico pairava sobre mim no fim daquele dia. Quando me cansei, encostei a bicicleta em uma pedra e sentei para apreciar a beleza espetacular daquela lagoa e de todas as cores que se transformavam tão rapidamente, era o final de mais um dia se aproximando na Polinésia Francesa.
Sol indo embora na ilha de Maupiti
Existem vários lugares legais para o banho também. Não encontrei realmente muitas praias, a não ser a nossa já conhecida Tereia Beach, mas fala sério…, precisa de mais praia?! A cada ponto a lagoa se mostrava completamente diferente, adaptada às realidades e necessidades dos povos que por ali vivem, paisagens estonteantes me surpreendendo a cada pedalada. Em alguns lugares a lagoa se mostrava plana, estática, com pequenas vibrações em sua superfície mediante a força imposta pelo vento.
Belos lugares que fui encontrando em meu caminho
Como Maupiti é composta por uma ilha principal rodeada por um atol de corais que criou várias sub-ilhas, praticamente não encontrei dificuldade no roteiro que fiz contornando a ilha. O grande problema é que chega em um momento que ou é preciso subir uma estrada totalmente inclinada para conseguir dar a volta, ou então opta-se por voltar pelo mesmo caminho, o que não é uma má ideia, visto que é possível parar nos lugares mais legais novamente e ver pessoas diferentes.
Lagoa de Maupiti
Em um lugar como esse você começa a valorizar ainda mais as pessoas que encontra pela frente. Você sente a necessidade de ser visto, faz questão de cumprimentar a todos que passam pelo seu caminho, da mesma forma que todos fazem questão de falar um oizinho pra quem passa pela quase deserta via que circula a ilha principal de Maupiti. Vida realmente muito relaxada, encontrei meia dúzia de pessoas no máximo, entretanto outra particularidade interessante foi o tanto de cachorro que encontrei no meio do caminho. Em alguns momentos eles são levemente agressivos, afinal de contas você está pedalando uma bicicleta (e cachorros amam correr atrás de ciclistas). A todo momento eu ficava de olho nos grupos de cachorros, não fui atacado por nenhum (ao menos aqui em Maupiti), mas já pensou o que ia ser necessário fazer pra conseguir uma antirrábica nesse fim de mundo?! Eu me cuidei dobrado por estar sozinho. Mas as paisagens compensavam muito meu esforço físico e cuidado para não levar um tombo ou ser mordido de graça pelos cachorros que avançavam.
Minha bike e minha lagoa na Polinésia Francesa
Minha bicicletinha só tinha uma marcha, estava com os pneus meio murchos e o esforço da volta acabou sendo um pouco mais necessário, visto que na ida parecia que o vento me ajudava e as “banguelas” eram mais constantes. Como a Teheimana ficava um pouco perto da Tereia Beach, percebi que estava próximo de completar a volta quando cheguei nessa praia, o primeiro lugar que explorei na Polinésia. Tirei meus chinelos, encontrei um cantinho pra sentar, juntei alguns cocos e me coloquei na missão de abri-los com as mãos, ao estilo típico da Polinésia. Reabasteci a minha garrafa com água de cocos para meu retorno, afinal de contas era muito fácil sentir os efeitos da desidratação.
Reflexos em Tereia Beach – Maupiti
O céu ia escurecendo cada vez mais, me alertando da hora de começar o regresso. Eu poderia ter seguido pelos motus e chegado na Tehei empurrando minha bicicleta para completar a volta na ilha, mas parece que eu era puxado por uma força maior que me motivava a pedalar todo o caminho de volta para sentir-me cada vez mais vivo!
Nuvens negras no céu de Maupiti
Só que o problema era querer sair de uma praia exclusiva como essa. Eu estava sozinho nesse lugar, passei vários minutos contemplando o silêncio, as nuvens, o movimento da água tranquila na lagoa. Sentava-me e me punha a pensar nos objetivos da minha vida, nas coisas que tenho feito de bom, nos rumos que desejo trilhar meu futuro, é uma viagem de introspecção e auto reavaliação. O esforço físico associado ao clima, temperatura e paisagens estonteantes são um excêntrico convite a rever conceitos e estruturar planos para o futuro. Tem como se sentir mais vivo do que isso!?
Pedalando ao redor de uma ilha da Polinésia Francesa
Quando o primeiro rastro de seres humanos apareceram na Tereia, eu me coloquei a pedalar no caminho de volta, eu sequer sei quantos quilômetros eu pedalei naquele dia. Eu sei que quando cheguei, sentia algumas câimbras leves, estava cansado porém tremendamente realizado.
Pedalando em Maupiti
No retorno à pensão da Tehei, todos já estavam jantando. Era a próxima etapa do meu tratamento de spa natural na Polinésia: hora do jantar! E o que tínhamos como cardápio?! Peixe horas, peixe cru!
A recompensa depois do esforço físico
Foram dias fantásticos em Maupiti, apenas 3 dias que me fizeram rever conceitos, organizar o meu planejamento futuro, momentos em que tive sede de viver, de me aventurar de me lançar ao mar e conhecer as coisas tão únicas que existem nessas ilhas no Oceano Pacífico. No outro dia eu embarquei em uma viagem até uma das ilhas mais lindas do mundo, a ilha de Bora Bora. Te convido a acompanhar as próximas publicações de perto para saber como foi a minha viagem.
Jantar em Maupiti
Farto de sashimi de atum, me despedi de todos e fui arrumar minha bagagem, dias especiais de aprendizado, de experimentação de novas culturas e sabores, tempo de renovação espiritual e profundo autoconhecimento. A imersão de uma viagem até as ilhas da Polinésia Francesa pode transformar o curso das decisões que tomamos no nosso dia a dia. Até a próxima!
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Veja os comentários (2)
Boa tarde, Luiz!
Adorei sua aventura de bike e gostaria de saber como é mulher sozinha viajando por la de bike, é que planejo ir em agosto e levarei a minha bike com 21 marcha, pra não passar sufoco...rs. O que vc aconselharia?
Desde de logo muito grata seu depoimento me animou bastante!
Abraços
Dora
Olá Dorcina, obrigado pelo seu comentário.
Bom, eu não recomendaria levar a bike, pois lá eles tem de graça com as hospedagens. Também é legal usar bike com o pneu bem largo (pois é comum pedalar na areia) e com ele um pouco murcho. Mas pode ir sem medo de ser feliz. Se tiver como despachar sua bicicleta sem pagar custos adicionais, mande ver, pois lá é tudo na bike mesmo.
Abração!